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Moda inclusiva traz autonomia e praticidade a pessoas em reabilitação

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Ninguém sabe o motivo, mas na véspera do Natal de 2016 o carro em que viajava a família de Jenifer Santos de Freitas, então com 11 anos, foi alvejado por 24 tiros. Jenifer estava no carro com seus pais e sua irmã e foi atingida por uma bala na coluna. Só ela se feriu. Na hora, sentiu que tinha perdido os movimentos das pernas.

IMG 20180419 WA0009Depois de três cirurgias e cerca de 90 dias entre tratamentos e internações, ela retornou à sua casa no bairro de Parelheiros, extremo sul de São Paulo, em cadeira de rodas. Como a lesão não tinha sido total, ela foi encaminhada para reabilitação no Instituto de Reabilitação Lucy Montoro (IRLM), cuja gestão é de responsabilidade da Fundação Faculdade de Medicina (FFM).

O progresso de Jenifer é enorme e existe inclusive a perspectiva de que ela um dia possa voltar a andar. Enquanto isso, a menina se adapta com muito empenho, à sua nova condição e ao tratamento. Uma das principais queixas de Jenifer era justamente a falta de autonomia em momentos como, por exemplo, ir ao banheiro. “Durante a reabilitação, a equipe de Terapia Ocupacional trabalha ao lado dos pacientes para ajudá-los a retomar a vida, as atividades mais corriqueiras. Um dos desafios, por exemplo, é o paciente paraplégico poder se vestir sozinho. Muitos não saem para ir a uma festa, por exemplo, porque não conseguem usar o banheiro”, explica a terapeuta ocupacional Maria Clara Pfister.

Um olhar para a moda
Esse tipo de problema começou a chamar a atenção da terapeuta ocupacional em 2010. “Sempre gostei de moda e, como minha mãe costura, comecei a levar peças de roupa para ela adaptar, a pedido dos pacientes”, explica. Na época, tinham sido criados grupos de discussão no IRLM que reuniam pacientes e cuidadores em torno de temas importantes para a reabilitação. Maria Clara propôs que um deles fosse a moda inclusiva, pois acreditava que adaptações simples poderiam ajudar muito os pacientes a melhorar sua autonomia.

“Uma vez um paciente me disse: ‘Não vou procurar emprego assim, vestido com calça de moletom’. Pensei comigo: ‘Eu também não iria’. E foi daí que comecei a procurar outras opções e também a incentivar que eles desenvolvessem a autoestima. No início, a preocupação maior é com a adaptação mais básica, mas para que a pessoa realmente possa retomar sua vida é preciso levar em conta esse aspecto.”

Segundo a terapeuta ocupacional, uma pesquisa informal realizada pela equipe mostrou que uma pessoa sem o movimento das pernas leva em torno de 37 minutos para vestir uma calça normal. Com as adaptações que a equipe propõe, às vezes feitas por costureiras particulares, em outras pela própria equipe do IRLM e do Instituto de Medicina Física e de Reabilitação do HCFMUSP (IMREA) na Unidade Vila Mariana, esse tempo chega a cair para 17 minutos. Jenifer, por exemplo, queria muito poder vestir de novo sua calça jeans preferida. “Às vezes são ajustes simples: nesse caso, fizemos duas aberturas laterais com um velcro e assim ela consegue se vestir sozinha”, explica Maria Clara.

Ampliando horizontes
O que começou por acaso hoje é parte importante da vida da terapeuta ocupacional, que ajuda a pensar os ajustes necessários e acompanha a adaptação das peças no IRLM, ao lado das demais atividades de seu trabalho. “É tudo personalizado, de acordo com a necessidade de cada um. Há mulheres, por exemplo, com muita dificuldade para fechar o sutiã. Mas existem modelos com abertura frontal, ou nós mesmos adaptamos. De qualquer forma, os pacientes querem que a roupa seja a mais ‘normal’ possível”, comenta.

Maria Clara hoje também dá aulas de moda inclusiva no Centro de Tecnologia e Inovação (CTI) da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, que oferece vários cursos e oficinas para pessoas com e sem deficiências, visando a profissionalização e a formação de profissionais que contribuam para a inclusão. “Hoje esse assunto é bem mais discutido. Temos vários alunos de moda no curso, que é gratuito e aberto a todos os interessados”, finaliza.

Texto originalmente publicado no site da Fundação Faculdade de Medicina.

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