Hospital das Clínicas
Primeira Instituição no Brasil Acreditada - Carf

SAÚDE MENTAL: SE NÃO CUIDAR, ELA PODE FALTAR!

Maria Isabel da Silva*

Se você ainda associa psiquiatria a loucura, obsessão demoníaca ou distúrbio moral, você está no século errado, estacionou lá atrás, mais precisamente no século 19. Porém, as pessoas do século 20 e 21, principalmente as maduras, na faixa dos 40, 50 anos, viveram uma juventude em que se obrigaram a ser mais do que podiam!! A vencer barreiras, enfrentar desafios e a empunhar a bandeira da autossuficiência. A que custo? Muitas vezes ao custo da ansiedade, depressão, tristeza crônica, cansaço, exaustão… Éramos fortes e inderrotáveis, estudávamos, trabalhávamos, cuidávamos do marido, filhos, casa, mãe, pai, sobrinhos, sogra, sogro e ainda sobrava espaço para passear, ir a academia, cabeleireiro, unhas, mão, pé, depilação, pele, cílios, maquiagem, dietas… Ninguém se assumia exausta, extenuada, absolutamente necessitada de cuidado, atenção e tempo para fazer nada, absolutamente nada, a pausa tão necessária que compõe a melodia da vida.

Mas só as mulheres? E os homens? Para esses sempre foi ainda pior: o rótulo de provedor e as cobranças da sociedade para se portar como chefe da casa, macho, pai, filho, genro, tio, amigo e, acima de tudo, trabalhador nunca deram espaço para “mimimis”, para olhar para o próprio peito e reconhecer a tristeza, a insatisfação, a exaustão, a ansiedade (muitas vezes entorpecida aos finais de semana com bebidas, uma após outra). Engole o choro e segue! Foi o que a maioria aprendeu no século 20.

Além de tantos deveres, boletos e obrigações, com a casa, com os filhos, com as responsabilidades assumidas e os compromissos pendentes há ainda os sentimentos e pensamentos que concorrem contra. Incertezas, ciúmes, inseguranças, negatividade, pessimismo, são apenas alguns dos desafios íntimos, jamais assumidos.

Mas estamos no século 21, crescemos e hoje vemos o que seria impossível anos atrás: a saúde mental precisa ser cuidada, cultivada, para não faltar.  Mas, esse nível de consciência requer auto-observação, autocuidado. Nem sempre as pessoas se dão conta que muitos dos sentimentos cotidianos são sofrimentos psíquicos e que precisam de cuidados. Em lugar disso, muitos resolvem afogar as mágoas, mergulhar nos afazeres de sempre, ou “encher a cara” e sair dirigindo por aí: moto, carro, bicicleta, ajudando a inflar as estatísticas: no Brasil, mais de 10 mil mortes anualmente, milhares de internações e centros de reabilitação abarrotados de pacientes são provenientes da combinação perigosa álcool e direção, que se origina da aflição íntima, da vontade de fugir “não sei de que, não sei pra onde”. Todos sabemos que álcool e direção são impróprios, mas talvez um desejo suicida de acabar com o cenário imutável em que a pessoa se inseriu a leve a adotar posturas insanas e homicidas. Nem sempre é simples reconhecer que precisamos de apoio profissional para o que não damos conta sozinhos.

A Dra. Bruna Rossi é uma psiquiatra que atua como assistente de justiça na área da Psiquiatria, contribuindo com avaliações psiquiátricas e laudos técnicos, integrando-se ao sistema de justiça para promover uma compreensão embasada e sensível das complexidades da saúde mental. Ela afirma que, muitas vezes, as emoções, quando manifestadas com intensidade incontrolável, podem sinalizar que o indivíduo não possui mais recursos internos para lidar com frustrações e limitações, reagindo de forma exacerbada e impulsiva, gerando risco a si mesmo e ao seu entorno.

“Os transtornos mentais são definidos justamente por essa incapacidade de, por si só, controlar tais emoções e sintomas, devido à ausência de recursos psíquicos e, muitas vezes, biológicos. Quando os sintomas são intensos o suficiente para tornar a vida do indivíduo disfuncional, considera-se a presença de um transtorno mental”, explica a psiquiatra.  Segundo a especialista, uma pessoa com sofrimento constante por ciúme, ansiedade ou instabilidade emocional pode estar enfrentando dificuldades de várias ordens psíquicas, por falta de segurança emocional, além de sofrer com desconfianças geradas por interpretações distorcidas da realidade. Pode ainda estar com um quadro de ansiedade ou depressão não tratado, em que os pensamentos se tornam descontrolados, acelerados, catastróficos, com sentimentos de menos-valia e ruína, impactando negativamente em seu juízo crítico e no controle de impulsos.

Dra. Bruna destaca ainda, que as pessoas, em geral, não se reconhecem como portadoras de transtorno mental porque, muitas vezes, os sintomas se instalam de forma progressiva, e a percepção de sofrimento ou disfunção é mascarada por tentativas de adaptação. E sabemos que existe o estigma social e a histórica negação da necessidade de ajuda psicológica ou psiquiátrica.

No século 19, os transtornos emocionais ou mentais eram tratados com correntes, segregação, tortura, sedação e isolamento. Mas estamos no século 21. Os recursos hoje são inovadores e transformadores. Qualquer pessoa que sinta que não está mais conseguindo lidar com as próprias emoções e pensamentos, que apresenta dificuldades nos relacionamentos ou repete padrões de comportamento nocivos, pode estar se autossabotando devido à falta de estabilidade emocional.

“Geralmente, quem está nessa condição não percebe a gravidade da situação. No entanto, ao observar mais atentamente seu funcionamento diário, pode identificar sinais como dificuldades para dormir, pensamentos acelerados, descontrolados ou catastróficos, dificuldade de concentração, desânimo, retraimento social, sensação constante de estar no limite, oscilações frequentes de humor, além de alterações no sono e no apetite”, afirma a Dra. Bruna Rossi, acrescentando que se esses sintomas estiverem  presentes na maior parte do tempo, durante a maior parte dos dias, é um forte indicativo da presença de sofrimento psíquico ou transtorno mental, ainda que temporário. “Procurar ajuda psiquiátrica pode ser fundamental para restaurar o equilíbrio e a qualidade de vida”, recomenda.

Dra. Bruna Rossi

Outra psiquiatra brilhante, a Dra. Gabriela Stump, é do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP atua no Laboratório de Psicopatologia e Terapêutica Psiquiátrica. Ela destaca que hoje os tempos são outros e que, está havendo uma mudança de paradigma em comparação a, por exemplo, há 20 anos, quando ela se formou médica psiquiátrica. Hoje há mais consciência e menos resistência em buscar ajuda. “Precisamos observar que há presença de adoecimento mental quando nos sentimos mais sensíveis e chorosos do que de costume, irritabilidade exacerbada, sensação de ansiedade, prevalência de cansaço frequente, alteração de ciclo de sono ou ausência de sono reparador, além de alterações de apetite – comer demais e comer de menos – esses são alguns indícios de que podemos estar precisando de cuidados profissionais”, destaca a médica Dra. Gabi, como é conhecida.

Uma dica importante é termos consciência de nossas impotências. E todos somos impotentes, em algum campo da vida. É normal! Ninguém é onipotente. Outro ponto que ela aponta como importante a ser observado é entender que não existe limite que separa a questão física da mental. “Estudos recentes revelam que a presença de inflamação de baixo grau é um dos fatores responsáveis por diversos problemas de saúde física, como cardiovasculares e aumento do risco de câncer e consequentemente de ansiedade, depressão e também Alzheimer. E, por outro lado, os problemas de saúde mental acarretam dores físicas, musculares, sintomas gastrointestinais e dores de cabeça, entre outros. Nosso cérebro não está fora do corpo, e ambos – físico e mental – se interligam”, ensina a Dra. Gabi.

Dra. Gabriela Stump

Para o médico fisiatra Prof. Dr. André Tadeu Sugawara, a saúde mental se relaciona a aspectos emocionais, sociais e psíquicos e a literatura aponta que os determinantes sociais e psíquicos impactam na geração e controle de doenças e condições que geram a aquisição de deficiência física. “Estes mesmos fatores também impactam na funcionalidade, na inclusão social, na dignidade e percepção de discriminação explícita que retroalimentam a saúde mental, num ciclo por vezes difícil de se romper”, destaca o médico.

Dr. André Sugawara, que é professor titular de Medicina Física e Reabilitação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP, destaca que a redução da mobilidade não se vincula somente a presença de uma deficiência. “Diversas pessoas e grupos populacionais apresentam rotinas esvaziadas, centradas no isolamento social, em que o rádio e a TV são os únicos companheiros. Guerras, conflitos, violência urbana e rural, agressões, restrição e carência socioeconômica, entre outras tantas condições que deterioram a saúde mental, também restringem a mobilidade”, declara.

Enquanto a maioria de nós atribui a cada um o esforço e a determinação para identificar fragilização no estado mental, Dr. André expõe uma visão mais ampliada e estende a abrangência da responsabilidade sobre a saúde mental ao âmbito governamental, em que, segundo ele, são importantíssimas como  políticas públicas de atenção global, que garantam direitos básicos para viver, alimentar-se, ter moradia, educação, emprego, renda, recreação, esporte, cultura, lazer, mobilidade e acesso a  todos os espaços públicos.

Esse aspecto social está contemplado na definição de “saúde mental” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que define os fatores que comprometem a saúde mental, como condições socioeconômicas expressas na restrição financeira e baixos níveis de escolaridade, condições ambientais (violência, exclusão social), biológicas e sociais (mudanças rápidas, trabalho estressante, discriminação de gênero), além de fatores individuais como vulnerabilidade psicológica e a exposição a experiências adversas. A OMS define que a saúde mental não é apenas a ausência de doença, mas um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de gerir o estresse, trabalhar de forma produtiva e contribuir para a comunidade.

CAMINHOS

O fato de o Dr. André atribuir aos gestores públicos a responsabilidade sobre a saúde mental da população pode significar um alívio, porque tira exclusivamente de cada pessoa a “culpa” por não saber lidar com os desafios internos e externos. O importante, no entanto, e talvez a pista principal para o alcance da saúde mental, esteja não em tratar ou curar, mas em saber lidar com os anseios, aflições, angústias, desejos, expectativas e frustrações que assolam a mente e que são relativamente comuns a todos os humanos. O primeiro passo é reconhecê-los.

Dr. André Tadeu Sugawara

Para o psicólogo clínico, especialista em direito empresarial, Dr. Ricardo Bispo Junqueira Costa, as pressões de uma sociedade complexa, que impõe além do trabalho e pressão acadêmica, uma “exacerbação do consumo” e “valorização maior de questões externas do que questões internas” contribuem sobremaneira para a perda da saúde mental e o agravamento de transtornos mentais. Ele ressalta que muitas vezes a pessoa não tem como interferir diretamente no destino das circunstâncias, tais como o rumo das políticas públicas, e diante da tendência em gerar frustração, o indivíduo deve desenvolver capacidade de lidar com a frustração, se possível com apoios eternos como terapias e psicoterapias. Olhem aí novamente a pista aparecendo: saber lidar.

Falar é fácil, mas como lidar com sentimentos cotidianos como ciúme ou inveja, que a gente muitas vezes nem se dá conta, aquela invejinha do dia a dia em que a gente vê o vizinho trocar de carro, a vizinha sempre viajando, o colega promovido de novo e a sensação de derrota, a impressão de que todos estão voando e nós engatinhando? Para o Dr. Ricardo, ciúme e inveja, entre outros sentimentos são comuns ao ser humano, porém rejeitados socialmente. “A condição humana abriga sabores e dores. Alguns podem ou não comprometer a saúde mental, isso dependerá da construção do ser ao longo da vida. Entendo que a Psicoterapia é uma ferramenta não só de cura ou atenuação da dor, mas também de um apoio ao desenvolvimento do ser, especialmente para lidar com essas horas difíceis. Humanas, mas difíceis”, ressalta. Ele destaca também que todos devemos ter a certeza de que viveremos situações não previsíveis e o caminho está em se “estruturar” para ultrapassar os revezes inevitáveis da vida enquanto ser social e individual, já que não é possível prever tudo o que nos vai acontecer. Estruturar para lidar.

Dr. Ricardo Bispo Junqueira Costa

Até aqui, os profissionais ouvidos nessa reportagem nos mostraram que estar com a saúde mental comprometida ou fragilizada necessariamente não significa doença, portanto, não precisamos buscar nos curar, sanar, superar. Muitas vezes, essas metas são inatingíveis, dependendo da gravidade da questão (como um luto, por exemplo, como superar um luto?), mas a qualidade de vida e a saúde mental podem estar no “saber lidar”. Aprender a lidar é o caminho!

Mas claro que tudo depende! Depende da gravidade, da intensidade do desequilíbrio. A psicóloga Adriana Lopes Fernandez, especialista em traumas, é enfática em observar que, em quadros mais graves — quando há desequilíbrio químico significativo, risco de autolesão, perda de contato com a realidade ou incapacidade de manter a rotina básica de autocuidado — a medicação e, em alguns casos, a internação podem ser indispensáveis para estabilizar a pessoa e preservar sua segurança.

Por outro lado, ela destaca que, em situações mais leves ou moderadas, especialmente quando os primeiros sinais são identificados rapidamente, é possível reverter ou melhorar o quadro sem o uso de medicamentos. Nesses casos, intervenções como acompanhamento psicológico, mudanças no estilo de vida, fortalecimento da rede de apoio e práticas de autocuidado podem ser suficientes para restaurar o equilíbrio mental, mantendo a vida diária ativa.

Adriana destaca que vivemos tempos de muitos desafios, pressão, conflitos e sobrecarga emocional. O que realmente nos desgasta, na maioria das vezes, não é o evento externo em si, mas a forma como o interpretamos e reagimos a ele. Como lidamos! “Na infância, todos desenvolvemos defesas psicológicas para sobreviver a situações que pareciam ameaçadoras. Essas estratégias foram essenciais naquele momento, mas, na vida adulta, podem se transformar em barreiras rígidas que distorcem a realidade e aumentam o sofrimento”, explica. Ela acrescenta que um simples acontecimento cotidiano pode se transformar em uma tempestade emocional interna. E, quando esse processo se repete por meses ou anos, o acúmulo pode levar ao colapso mental.

Mas quais são os caminhos para lidar antes que a crise se instale? Entre os vários caminhos, a psicóloga destaca: reconheça a defesa no momento – O que estou sentindo agora?  Estou reagindo a algo real ou a uma lembrança antiga? Minha reação está proporcional ao que aconteceu? Ela recomenda investigar a raiz da emoção – medo, dor, tristeza, sentimento de impotência… Quando reconhecidas e aceitas, essas emoções perdem a força destrutiva.

Outra solução importante, segundo Adriana Fernandez, é assumir a responsabilidade interna. “O poder de transformação não está em mudar as circunstâncias externas, mas em modificar nossa resposta interna. Na minha experiência clínica, observo resultados muito significativos com o trabalho de autoconhecimento em terapias de grupo. Esse formato acessa dimensões que, sozinhos, dificilmente conseguimos explorar com tanta profundidade. Mais do que um espaço de fala, o grupo se torna um laboratório de relações autênticas, onde é possível experimentar novas formas de estar no mundo e, assim, avançar de forma consistente na recuperação da saúde mental”.

Dra. Adriana Fernadez

Mas e quando a saúde mental extrapola o âmbito pessoal, familiar e doméstico e atravessa a fronteira do trabalho, interferindo na produção e concentração, como lidar? A psicóloga, Doutora em Psicologia Social, com mais de 30 anos de experiência na docência universitária e gestora de Recursos Humanos, Dra. Ana Virgínia Santiago Araújo, destaca que a saúde mental no trabalho é um tema crucial, com estatísticas indicando que uma em cada cinco pessoas pode sofrer de algum problema de saúde mental no ambiente profissional.

Segundo a Dra. Ana Virgínia, essa realidade impacta diretamente no desempenho, na produtividade e na frequência ao trabalho. “Fatores como a organização do trabalho, chefias autoritárias, falta de comunicação e excesso de pressão podem contribuir para o adoecimento mental. Porém, colaboradores da chefia, que exercem pressão, também podem eles mesmo estar sofrendo com questões pessoais e pressão mental”, explica. Deduzimos, com isso, que oprimidos e opressores vivem, muitas vezes, em um círculo vicioso, ambos sofrendo com o comprometimento da saúde mental.

A Dra. Ana Virgínia esclarece que a pessoa pode estar com a saúde mental comprometida, mas não se dar conta disso. O comprometimento pode começar de maneira discreta e persistente, insidiosa, de maneira que a pessoa só perceba quando a situação se agrava até um nível em que a funcionalidade geral da pessoa possa estar com algum grau de comprometimento. Em geral, esse quadro pode se estabelecer em situações como após uma perda na vida da pessoa, como o rompimento de um relacionamento significativo, que evoluiu a ter dificuldade de pegar no sono, irritação com situações cotidianas, insegurança para tomar decisões simples, falta de concentração, ou com dificuldades constantes e crescentes de se relacionar com colegas da equipe de trabalho.

A psicóloga ensina que quando pensamos em saúde mental comprometida, estamos diante de duas condições principais: o sofrimento psíquico e o transtorno mental, que são condições diferentes, mas inter-relacionadas. “Diferente do transtorno mental, o sofrimento psíquico é um estado de mal-estar emocional e psicológico, que pode ser uma reação normal, adaptativa frente às situações difíceis da vida, como perdas, estresse ou conflitos”. Segundo a Dra. Ana Virgínia, o sofrimento psíquico varia de intensidade e duração, dependendo da situação que ocasionou e da pessoa. “É importante identificar e tratar a pessoa diante da persistência ou aumento de intensidade do sofrimento psíquico, pois pode acarretar prejuízos significativos no cotidiano e no desempenho profissional”, acrescenta.

Por outro lado, o transtorno mental é uma condição clínica, que causa sofrimento ou prejuízo importante no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida da pessoa.  O diagnóstico é realizado por profissionais como psiquiatras e psicólogos, atendendo a critérios específicos com base em manuais, por exemplo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM) ou o Código Internacional de Doenças (CID).

No transtorno mental podem estar alterados o humor, o pensamento, o comportamento e percepção. Em geral, o transtorno mental pode exigir tratamento médico e psicológico específicos para cada condição. São exemplos de transtornos mentais: depressão profunda, transtorno de ansiedade generalizada, esquizofrenia, transtorno bipolar, transtorno obsessivo compulsivo, etc. Em geral, os transtornos mentais são identificados na adolescência e começo da vida adulta. Os sintomas dos transtornos são mais fáceis de perceber, o sofrimento psíquico é mais “camuflado”.

Mas o que fazer se o sofrimento mental em decorrência de questões particulares acarretam em prejuízo ao desempenho profissional? O recomendado pela psicóloga é procurar ajuda profissional como fundamental, para diagnóstico e tratamento. “A base do funcionamento cognitivo é emocional. Se estamos persistentemente tristes ou amedrontados, provavelmente não teremos a energia suficiente para resolver problemas, tomar decisões, aprender coisas novas. Uma outra questão é entender o próprio envolvimento com o trabalho: qual o significado do trabalho na vida da pessoa, qual o propósito pessoal que o trabalho realiza”, indaga a psicóloga.

Porém, em se tratando do aspecto profissional, a pessoa não precisa enfrentar seus desafios sozinhas. Há organizações corporativas saudáveis, que promovem a cultura inclusiva, acolhedora e humanizada, incluindo estímulo à criatividade e inovação, os cuidados com a saúde geral e monitoramento do nível de satisfação dos colaboradores. “O investimento na formação e desenvolvimento da liderança inspiradora também contribui para que os relacionamentos sejam mais sadios, colaborativos e produtivos. É importante o equilíbrio entre as demandas e as possibilidades de execução do trabalho, além do reconhecimento justo pela performance. Relações saudáveis no trabalho estão relacionadas, positivamente, com a qualidade da comunicação interna, aberta, respeitosa e empática”.

Segundo a Dra. Ana Virgínia, o sofrimento, pelo trabalho, pode comprometer a qualidade da vida da pessoa, em todos os seus aspectos, com repercussões sociais evidentes, e vice-versa, a vida pessoal também repercute fortemente no trabalho. A pessoa que não está bem, do ponto de vista mental, precisa ser reconhecida e aceita, para receber o atendimento e apoios necessários à recuperação da saúde. Isto é parte da responsabilidade social das organizações. O importante é não deixar passar, minimizando os efeitos. Há que se aprender a lidar.

Dra. Ana Virgínia Santiago Araújo

*Maria Isabel da Silva é Jornalista no Instituto de Medicina Física e Reabilitação do HC FMUSP

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